quarta-feira, 4 de abril de 2007

Cena 21


APRESENTADOR
– E assim, senhoras e senhores,
Vai chegando ao seu final
Este drama musical.
Contamos com louvores
Pois esta noite fizemos o melhor que pudemos.
Nova noite, novo encontro
Neste palco, nove em ponto.
Quem gostou a nós dedique
O seu melhor comentário,
Nos recomende aos amigos.
Quem não gostou que não fique
Quieto, não, muito ao contrário
Recomende aos inimigos.
Mas não levante inda não
Que aí vem mais coração.

(MÚSICA).

CORO – (fora) Vem, vem, vem, vem…

APRESENTADOR – Todo musical termina
Com alegria e com música.
Que o mesmo se use cá,
Fica bonito e combina,
Também passando em revista
O teatro e os artistas.

(Abre-se a cortina. O cenário é uma escadaria branca. Ao fundo, as duas máscaras - a trágica e a cômica – que representam o teatro.)

CORO – (fora) Vem, vem, vem, vem…

APRESENTADOR – Dos primórdios a hoje em dia,
Feita sempre com a intenção
De tocar sua emoção,
Vem, pra vocês, a TRAGÉDIA.

CORO – (fora) Vem, vem, vem, vem…

(Entram as três figuras da tragédia. A música se torna lenta; as figuras, com túnicas e máscaras, se movimentam numa curta coreografia. A um dado momento, a música muda, ao tempo em que as figuras se transformam de dentro das túnicas, que viram em capas brilhantes, surgem três atrizes em maiôs – tudo vermelho.)

TRAGÉDIA – Eu abro o meu lado mais sério
E te dedico a minha lágrima
Descubro todo o mistério
E aceito a tua lástima
Porque és meu público…
(Interrupção do tema).

CORO – (fora) Vem, vem, vem, vem…

APRESENTADOR – É o contrário da tragédia,
Feita com nobre intenção
Relaxar sua tensão,
Vem, pra vocês, a COMÉDIA.

CORO – Vem, vem, vem, vem…

(Entram, pelo alto da escadaria, três figuras o BOBO-DA-CORTE, o PALHAÇO e CARLITOS, com máscaras. Ao som de música brejeira, as três figuras executam curta coreografia, ao final da qual, ajudadas pelas três atrizes já em cena, retiram como em um passe de mágica as roupas, à maneira das trocas de roupa em cena do teatro KABUKI japonês. Surgem três atores em fraque – tudo vermelho. E todos cantam.)

COMÉDIA – Pra agir direito sobre o tédio
Esqueço o meu lado mais ríspido
E me transformo num remédio
Que age bem sobre o teu fígado,
O do meu público…
(Interrupção do tema).

COMPANHIA – É pelo público
Que bem no fundo de
Um espetáculo
Existe ainda um coração.
(E, apontando para o alto da escadaria)
Vem, vem, vem, vem…

(Abrem-se as máscaras e surge o coração – vivido pela atriz que viveu MÃEZINHA, é claro! – inteirinho enfeitado com plumas e brilho – em vermelho.)

O CORAÇÃO – (descendo a escadaria)
Torno, aqui, vida em encantamento
Meu alento eu lhe empresto, não mais
Como a vida, a cena é um momento
Esta passando, não volta jamais…

COMPANHIA – Aqui estou pra te dar, por momentos,
Ilusão, vida, encantamento
Vem buscar-me depressa, pois eu...

UNS – Vem, vem, vem, vem…

OUTROS – Passo rápido.

UNS – Vem, vem, vem, vem…

COMÉDIA – Eu sou cômico.

TRAGÉDIA – Eu sou trágico

TODOS – Mas vem

Vem
Ver
Vem
Rir
Vem
Chorar
Vem

TODOS – Me amar

Vem buscar-me que ainda sou teu.

(Não se sabe ao certo se mil e quinhentas e dezessete ou se mil e setecentas e quinze bolas-de-gás vermelhas caem do teto para encerrar com alegria e cor a dita tragicomédia musical, que exatamente por ser musical não ficava bem que acabasse simplesmente.)

FIM


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